A importância de ‘descolonizar’ nossos modos vida, de pensamento e de habitação do mundo vem sendo colocada em evidência de modo cada vez mais enfático desde meados do século passado, especialmente no contexto de ex-colônias europeias. No âmbito acadêmico, a busca por ‘epistemologias decoloniais’ tem sido um forte vetor de pressão para a descolonização das práticas científicas e filosóficas. No entanto, se o que se tem em vistas é efetivamente promover o encerro da empresa colonialista moderna, é necessário, nesse mesmo âmbito, estarmos atentos àquilo que as práticas científicas modernas se esforçaram veemente para apagar; isto é, é necessário nos atentarmos que antes que um problema epistêmico que afeta um unívoco mundo, o que temos à frente são problemas epistêmicos que sucedem de um mundo não unívoco. Nesse sentido, a prática das ciências ambientais se encontra atualmente num lugar de tensão entre os ‘problemas ambientais’ atestados por suas pesquisas e os ‘problemas ambientais’ atestados por povos não modernos, os quais não correspondem e nem mesmo podem ser devidamente alocados em suas pesquisas. Particularmente, alguns conflitos ambientais latino-americanos envolvendo populações indígenas, como os apresentados por Marisol de la Cadena, se mostram de grande eficácia para expressar a questão das políticas ontológicas tal como Isabelle Stengers propõe. Assim, visando descolonizar a prática das ciências ambientais, este trabalho argumenta que é precisamente essa não univocidade do ‘mundo’ que tais práticas necessitam confrontar e, antes que ‘uma epistemologia decolonial’, são necessárias ‘epistemologias decoloniais’ que sejam construídas a partir da pluralidade pautada pelas políticas ontológicas.
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